segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Aventura

Achei que o post anterior fez necessário outro para me explicar melhor. Isso porque tudo o que disse tem um grande porém, essa foi a MINHA visão sobre essas imagens, para alguns, elas podem dizer nada, mas minha escolha sobre esse video em questão foi pelo fato de que para a maioria das pessoas para quem o mostrei, foram tocados pelas imagens, quis maximizar o número de leitores que entenderiam o que disse.

A guestão central é: Por que certas imagens tocam a gente enquanto outras não? Um dos livros mais conhecidos sobre fotografia e que levanta essa questão foi escrito pelo filósofo Roland Barthes e é chamado "A Câmara Clara", onde ele contrapõe o processo óptico de reprodução da imagem, a câmara clara, o qual nós temos o controle e a câmara escura, que seria a maquina fotográfica e a reprodução química, onde não temos controle. Nele o autor diz:

"Decidi então tomar como guia de minha nova análise a atração que eu sentia por certas fotos. Pois pelo menos dessa atração eu estava certo. Como chamá-la? Fascinação? Não, tal fotografia que destaco e de que gosto não tem nada de brilhante que balança diante dos olahos e que faz a cabeça oscilar; o que ela produz em mim é exatamente o contrário do estupor; antes uma agitação interior, uma festa, um trabalho interior, a pressão do indivizível que quer dizer. Então? Interesse? Isso é insuficiente; não tenho necessidade de interrogar minha comoção para enumerar as diferentes razões que temos para nos interessar-mos por uma foto; podemos; seja desejar o objeto, a paisagem, o corpo que ele representa. seja amar ou ter amado o ser que ela nos dá a reconhecer; seja admirar ou discutir o desempenho do fotógrafo, etc.; mas esses interesses são frouxos, hererogêneos; tal foto pode satisfazer a um deles e me interessar pouco; e se tal outra me interessa muito, eu gostaria de saber o que, nessa foto, me dá o estalo. Assim, parecia-me que a palavra mais adequada para designar (provisoriamente) a atração que sobre mim exercem certas fotos era aventura. Tal voto me advém, tal outra não."

Se pararmos para pensar, é realmente um mistério o que nos faz termos atração por uma fotografia, mas a aventura, como explica Barthes, é o que nos faz colocar a foto em posição de existência, a desvinculando de sua categoria de objeto e a tornando animada.

"Nesse deserto lúgubre, me surge, de repente, tal foto; ela me anima e eu a animo. Portanto, é assim que devo nomear a atração que a faz existir: uma animação. A própria foto não é em nada animada (não acredito nas fotos "vivas") mas ela me anima: é o que toda aventura produz."

Mas eis então a minha foto preferida, a foto que mais me anima.

É uma fotografia do fotojornalista Evantro Teixeira da tomada do Forte de Copacabana, durante o golpe militar em 1964. Sempre tive uma atração por ela, desde que a vi pela primeira vez e não espero compartilhar disso com ninguem, pois entendo que qualquer que seja o mecanismo que funcione em nossa cabeça, ele é bastante individual.

Não pretendo, contudo, aliviar nossa relação racional com a fotografia. Nas fotos do André Mourão no último post, nosso reconhecimento temático, a capacidade técnica do fotógrafo e até a música da montagem nos envolve. Naquele ponto argumentei como a fotografia transcendia o fato retratado, e agora, como nos envolvemos com esse objeto subjetivo que exala da foto, mas penso que numa montagem como aquela, se perde uma caracteristica fundamental da fotografia, que a difere, principalmente do cinema, a sucessão de imagens faz com que cada imagem cancele a precedente. O ato de observar a imagem deve ser ativo e passivo, ao mesmo tempo que você penetra nela, ela penetra em você. Tais fotos em uma exposição, teriam individualmente, um impacto muito maior, pois daria o tempo necessário para que ocorra esse envolvimento. Contudo, o mérito do cinema, a que a montagem também propõe, deve ser reconhecido, a capacidade de contar histórias, as fotos selecionadas nos envolvem da mesma forma com a questão da violência no Rio de Janeiro, elas já têm um "pré-texto" quando as olhamos, e nessa história, é difícil separá-las.

2 comentários:

Sheila Cabral disse...

Eu tbm gosto desta foto! Desde as aulas do Holanda (quando a vi pela 1a vez). E como Barthes e vc, não sei porque! Sim, ela me "anima" no sentido q Barthes descreve, mas não no sentido de ficar feliz. Acho a bonita, esteticamente falando. Mas beleza nao poe mesa! Existem outras q me "animam" e são feias. Acho que foto é q nem gente. Não se sabe direito pq se gosta. Umas animam a gente! Outras não!

F disse...

ah... maravilhoso o post!
aprendi umas coisas com você hoje!
:)